quinta-feira, 23 de maio de 2013

NEGRO DE TODO O MUNDO (Francisco José Tenreiro)


Textos e atividade de leitura

No texto que você vai ler de Francisco José Tenreiro fala sobre a solidariedade sem fronteiras para com as pessoas da raça negra, não importando o local de nascimento e sim a cor da pele e a origem comum, é uma das maiores recorrências na poesia africana de língua portuguesa dos anos 40 e 50, e afro-brasileira da década de 60 à de 80. É a apologia do “Negro de todo o mundo”, na qual, o sujeito poético assumindo um caráter coletivo, torna-se o porta-voz da sua raça e se solidariza com todos os negros oprimidos, sejam aqueles que foram escravizados no passado ou os que estão sofrendo a opressão colonial e o preconceito racial no presente, ao mesmo tempo em que exalta as grandes personalidades do mundo negro que se tornaram verdadeiros símbolos para a raça, como o líder revolucionário haitiano Toussaint-Louverture, o pastor evangélico Martin Luther King, o músico Louis Armstrong, e os poetas Langston Hughes, Nicolas Guillén, Aimé Césaire e Senghor, entre outros.

  

NEGRO DE TODO O MUNDO  (Francisco José Tenreiro)

 

O som do gongue

ficou gritando no ar

que o negro tinha perdido.

                Harlém! Harlém!

América!

                Nas ruas de Harlém

                os negros trocam a vida por navalhas!

América!

                Nas ruas de Harlém

                o sangue de negros e de brancos

                está formando xadrez.

                               Harlém!

                                               Bairro negro!

                                                               Ringue da vida!

 

Os poetas de Cabo Verde

estão cantando...

 

Cantando os homens

perdidos na pesca da baleia.

Cantando os homens

perdidos em aventuras da vida

espalhados por todo o mundo!

 

                Em Lisboa?

                Na América?

                No Rio?

                               Sabe-se lá!...

 

— Escuta.

É a Morna...

 

Voz nostálgica do cabo-verdiano

chamando por seus irmãos!

 

Nos terrenos do fumo

os negros estão cantando.

 

Nos arranha-céus de New-York

os brancos macaqueando!

 

Nos terrenos da Virgínia

os negros estão dançando.

 

No show-boat do Mississípi

os brancos macaqueando!

 

Ah!

Nos estados do sul

os negros estão cantando!

A tua voz escurinha

está cantando

nos palcos de Paris.

                Folies-Bergères.

 

Os brancos estão pagando

o teu corpo

a litros de champagne.

                Folies-Bergères!

 

Londres-Paris-Madrid

na mala de viagens...

 

                Só as canções longas

                que estás soluçando

                dizem da nossa tristeza e melancolia!

 

Se fosses branco

terias a pele queimada

das caldeiras dos navios

que te levam à aventura!

 

Se fosses branco

terias os pulmões cheios

de carvão descarregado

no cais de Liverpool!

 

Se fosses branco

quando jogas a vida

por um copo de whisky

terias o teu retrato no jornal!

 

Negro!

Na cidade da Baía

os negros

estão sacudindo os músculos

 

Ui!

Na cidade da Baía

os negros

estão fazendo macumba.

                Oraxilá! Oraxilá!

Cidade branca da Baía.

                Trezentas e tantas igrejas!

                               Baía...

                Negra. Bem negra!

Cidade de Pai Santo.

                Oraxilá! Oraxilá!


Relacione o poema “NEGRO DE TODO MUNDO” de Francisco José Tenreiro, com o vídeo da música “Strange Fruit” interpretada por Diana Ross. Elabore um texto sobre a influência da cultura negra no mundo.

Um comentário:

  1. Encontrei um canal com tradução simultânea do inglês para o português, espanhol e francês do poema Negro do Langston Hughes.
    https://youtu.be/qVYGXSsG100

    ResponderExcluir